19 março 2011

Resgistro II

De ser mulher
eu não sei.
Não sei dos recantos de veludo,
fartas vestes de ostra rubra.
Nem dos rios de fogo
e lava perene cruzando
recônditos desertos.

Porque põe batom
eu estremeço, ígneo
em febre e taquicardias,
pleno suor de sal
resvalando pele e osso.

Meia-noite o seu perfume
faz mudar o mundo,
a órbita, o dia. Recomeça tudo
feitiço e lua, temor, abandono,
entrega e precipício.

De ser homem aprendi isso:
caminho sem volta
amando o que não sei.
Por causa dela existo
engastado em sua matéria
de complexo mistério.

Registro I

No incompleto das coisas
repousa o relógio
sem sol e de silêncio constante.
Seu tempo é lança de rumo incerto
e alvo ressentido no entulho,
na brasa e carvão
dos dias postos.
Eis que a hora chega,
chegará,
antes de esgarçar
o que é feito de sonho,
palavra e tendão.
Vida antes da morte,
desvio de poesia ilesa.
O poeta imita o corpo
da alma do poema.
Assim vive, em luz.