27 junho 2011

Registro XLII

Há de ser no prado as bodas de Caio.
O girassol quebrado, lá viceja.
As dobras da encosta,
no infinito do vale,
todas lisas,
engomadas de paciência e louvor.
Caio, ferro em brasa,
passando a limpo as delicadezas,
as maçãs, os morangos,
dentro e fora da manhã morna.

Há de ser no prado os suspiros,
o café bem quente na caneca azul,
a erva amorosa, a paz do domingo,
a cura para a fome das cigarras,
o estouro delas,
o estertor das canções de dentro.

Sinal da cruz eu faço ao vento
em qualquer brecha de sol
que me incendeie.
Há de ser no prado, em mim,
feito telha após a chuva,
a vida gotejando.

20 junho 2011

Registro XLI



Ilhas de Turíbia,
epifanias sem prumo.
Aqui das águas de Pedro
penso:
queimai retinas de sal
no sol de corais!
Ai São João...
Dança em bandeirolas de cor,
no meu inverno
queimam.

13 junho 2011

Registros XL

Um poeminha só
antes de dormir, ele disse.
O dia foi de dever cumprido,
noite trevosa e fria
na borda do copo americano.
A volta para casa
em passos lentos
firmada no prato de sopa.
As bênçãos de Deus
nem sempre são coloridas.
Uma noite insossa
também é divina.
Basta ela se vestir de azul
e acompanhar minha chegada.
Quase dá para ver o arco-íris
brotando do castanho.

07 junho 2011

Registro XXXIX

Vim andar em tua mão,
teu destino sem centelha.
Segura a minha mão assim mesmo,
que as linhas se assemelham.
As que pressentiram o perigo
e emudeceram,
as que regaram o abismo
e não seguiram.

Vim esperar a chuva passar
no teu aceno.
Alisa meu cabelo,
consola minha fome,
o meu deserto,
em tua concha de mel,
cigarros e zelo.

06 junho 2011

Registro XXXVIII

Ele cantava
uma canção noturna
para as putas solitárias.
Um violão emprestado,
o banco velho,
delírios afiados,
melodia etílica,
sombra e desatino.

O filho dormindo num canto
esperava a hora
de ser o caminho
da sua retirada.
Dor e frio.
Amor se esgarçando.

05 junho 2011

Registro XXXVII

Estive no prado, Caio.
Duas ramas, bule de alumínio
e fresta na telha preenchida de sol.
Reli tuas cartas
ao pé do Sagrado Coração,
tanta dor e doçura tecidas.
A fragilidade luzidia
da chama da vela,
sobre a mesa arrumada,
eu supus ser como a vida:
pega que ela queima,
sopra que vai embora,
se desvencilha.
Não quero respirar ainda
perto dela.

Registro XXXVI

Não sei que horas são.
Desoriento-me no tempo.
A imagem em mim
é de carne -
O que será o vácuo
entre os ponteiros?
Ali sou eu.