25 julho 2011

Registro XLVII

Amo.
A solidez medonha é dessa tal palavra.
Eu sou e vivo na metáfora louca:
é o que tu és o que eu fagocito
e regenero em tua solidez mais cálida.

Amo.
A solidez medonha desse tal gesto
que insinuas.
Eu sou e vivo dessa imensidão.
Da tua parte que completa o mundo
eu sou o nórdico e o vazio sem ele.
Ama, que é todo meu o desvario,
do calor que reverberas,
o vínculo do nosso universo
inconcebível e flor.
 



Pelos 19 anos juntos.

12 julho 2011

Registro XLVI

Estive em tua casa.
Os feixes, os grãos todos antigos, lodosos.
Teus gestos invisíveis me atravessando,
vela cansada tremulando uma dança casual.
Ouvistes meu canto, meu lamento?

Pousei a mão sobre tua casa.
As paredes, as portas todas fechadas,
intransponíveis para mim por ora.
Foi o mais perto que cheguei de ti
para ouvir o teu silêncio
em tuas margens de rio que me cruzam.

Fui ao quintal imaginário.
As frutas, os doces
saborosamente revelados,
anunciavam ternuras sem conclusão.

Estive em teu lugar de ser para sempre.
Fui pelo tempo que não se conta,
em partículas de amor inabalável,
sem véus, só promessas.
Sem objetos, só interlúdio.
E essa música que ensinas ao vento
é própria do nosso encontro.

Registro XLV

As lembranças de Luiz, todas,
nas histórias de coração ressentido,
no arrependimento tardio
pelo sonho confiscado.
Culpas pintadas de roxo
e retratos que dizem
o que não ouvia Luiz.
Casa, comprimento, pito, saudade.
As rugas de hoje
descobrindo o incomensurável
desperdício de amor.

Seu pai, costela quebrada.
Ninguém diz que ama Luiz.
Ele, tempo doce e frágil por dentro,
só queria gestos leves,
de vez em quando um não cuidadoso
e a resposta: por que meu Deus?

Registro XLIV

Bem cedo fez-se a órbita,
um anel inquebrável na mão suprema.
O carrossel de estrelas,
no eixo do que se move,
é natural na ordem dos caminhos
ora quente, ora frio.
E nós, planetas fundidos
em torno de um sol imprevisível,
desde o primeiro lampejo
do que foi pensado e escrito,
antes da ideia de criar o universo,
já brincávamos na penugem do tempo.
O que pode assim não ser?

Registro XLIII

No presente de aniversário
foram: cirandinha brejeira,
bolo azul de nuvem,
aroma de chá rosado
suspenso em asas
de porcelana púrpura
para brindar sol e chuva;
doce de leite assoberbado
de tanto ser o doce que tem,
fadinhas mornas
e florzinha amarela e roxa
para espantar o impossível.

A alegria na noite do olho
foi pirilampo.