14 março 2012

Registro LXIII

Tenho desamparos.
Escrevo nos livros que leio
querendo acalentar as palavras que tenho.
Escritas em sumo doloroso,
não saem de mim de outro modo.
Penso em Deus e fujo.
Não quero dizer o que ele já sabe.
Ele me encontrará
onde eu existo mais pobre,
mais desamparado
e me dará mais mil palavras novas
ao primeiro ardor do sol
para que eu recomece a minha lavra.

11 março 2012

Registro LXII
























 A gente nasce homem e mulher
para as coisas de homem
e para as coisas de mulher.
Um dia aparecem,
à frente dessas generalidades,
as coisas de ser gente,
o dentro do sumo esborra.
Então a gente não é mais o que nasce.
A gente é o que é.

(A ilustração é um recorte do desenho de Fernando Marinho)