23 novembro 2011

Registro LIV

Soube da lança
ponta aguda
na memória das coisas,
o tempo cravado em pedras,
paredes escuras
no entumecido corte no de dentro.
Do Prado escaldado, o osso roído das horas,
só adagas cruzando o deserto.
Poemas imprecisos
em delicados solfejos nos dias.
É terna a ferida em mel supurada
por abelhas cerzindo saudades
no laranja esquivo da tarde.

14 novembro 2011

Registro LIII

Ao que é livre:
voe e permaneça
nas vagas do dia.
O sopro libertado
chega até onde
dobra o mundo,
desvia da pedra,
da lança
e pousa.

13 novembro 2011

Registro LII

O que de tuas agonias
eu trago, adorado?
O silêncio em dobro?
A garganta-abismo seca
engolindo a vida?
O que de tuas farpas
eu carrego, amado?
O tombo da lisura,
os estertores, o copo cheio,
goles turvos
insondáveis?
Eras um ser e eras outro.
E eu nem sei ser
o teu espelho avesso,
a tua ruga presa
no canto de olhos sombrios.
O que de tuas esperanças me condena?
Tentar amar de novo?
Um fruto deglutido, casca-saliva,
semente, um outro-eu-auto-retrato?
De tuas linhas seis desenhos
põem-se em andamento
no traço daquilo
que o teu oculto determina.
O que de tua morte é minha vida?

Registro LI

O que desanda o humano
é escolher o viés da palavra.
Dizer o que não é:
a danação.
Ruína do mundo é não ser.

01 novembro 2011

Registro L

Deitado em seu Palácio de Esmeraldas
rugias no deserto dos próprios
acontecimentos.
A vida lhe foi posta
em pratos rudes,
o amor imposto
em panos limpos.

Se dissesses: não sou,
anoitecia.
Mas sendo o que eras
o sol se abriu.